Zumbis, um dia inevitavelmente os mortos vão se erguer de suas covas e caminhar novamente espalhando o terror entre os vivos.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

A Noite Devorou o Mundo (Filme)



Quando acorda pela manhã, neste apartamento onde ainda ontem acontecera uma grande festa, Sam precisa aceitar os fatos: ele está sozinho e mortos-vivos invadiram as ruas de Paris. Aterrorizado, ele precisa se proteger e se organizar para continuar vivo. Mas Sam não sabe se é realmente o único sobrevivente. A Noite Devorou o Mundo (2018) tem direção do estreante Dominique Rocher e é baseado no romance homônimo do escritor Martin Page. A obra, selecionada para o Festival Varilux de Cinema Francês 2018, é estrelada por Anders Danielsen Lie, Golshifteh Farahani e Denis Lavant.



Baseado no romance homônimo de Martin Page (que assina a obra sob o pseudônimo – e anagrama – Pit Agarmen), A Noite Devorou o Mundo é o longa de estreia de Dominique Rocher e vai muito além de um tradicional filme sobre zumbis. Na contramão dos seus colegas de gênero, A Noite Devorou o Mundo é um drama apocalíptico cuja trama é centralizada em seu protagonista: vivido pelo excelente Anders Danielsen Lie, Sam é um jovem solitário, introspectivo e que pouco interage com o mundo à sua volta. A princípio, ele acredita ser o único sobrevivente da catástrofe; assim, seu maior desafio é manter-se nesta nova realidade, sustentando sua humanidade.


A narrativa, entretanto, é quase nula dos clichês do gênero: não espere perseguições de tirar o fôlego, sangue jorrando para todo lado, vísceras e membros voando por aí (em alguns momentos, isso até ocorre, mas em uma intensidade muito menor). Com um argumento relativamente simples e sem muitas firulas, A Noite Devorou o Mundo é praticamente um manual de sobrevivência ao fim dos tempos, mas redigido com uma sensibilidade e melancolia que não são tão comuns a esta categoria cinematográfica. No lugar dos tiros, carnificinas e exposição gratuita, temos um protagonista que passa a maior parte do tempo produzindo música com o que tem à sua disposição; se exercitando; organizando a “despensa”; ou mesmo dialogando com Alfred (um morto-vivo que, por algum motivo, fica preso no elevador do prédio). Curiosamente, A Noite Devorou o Mundo pode ser encarado como uma profunda crítica à solidão do homem na nossa contemporaneidade – e a maior expressão dessa ideia pode ser encontrada no fato de Sam encerrar o filme da mesma forma como o iniciou: só. A frase eternizada por Tom Jobim (“É impossível ser feliz sozinho…”) é colocada em pauta: em uma sociedade cada dia mais individualista e egoísta, é possível viver sozinho?

Nunca pensei que fosse curtir tanto esse filme de zumbis! Certamente isso se deve ao fato de que o foco, na realidade, está no comportamento, no pensamento e na observação do narrador-protagonista. Felizmente (ou infelizmente para alguns), aqui não tem aquelas passagens de ação batidas nem aquela mesmice que vemos nos filmes de zumbis, super recomendo esse filme.